No Culto à Santa Morte, não se busca o céu — busca-se o real. A devoção não mira o alto em súplica, mas fixa os olhos à frente e aos lados, onde a vida de fato acontece: na terra, entre ossos, sangue, poeira e desejo.
A forma que essa Senhora assume varia conforme os olhos que A veem. Em alguns caminhos, Ela se reveste de símbolos herdados, adornada por vestígios de templos antigos. Em outros, vem crua, ancestral, desvestida de molduras — e ainda assim, ou talvez por isso mesmo, profundamente presente. O que importa não é o traje, mas o vínculo. É a escuta. É o reconhecimento da Morte como potência, e não como fim.
A ética devocional não nasce do medo de errar, mas do compromisso com o que pulsa. O culto é uma aliança com a verdade — e a verdade não é moral. Ela é nua. E caminha conosco, mesmo quando estamos de joelhos, mesmo quando só resta silêncio.
É comum que quem se aproxima da Morte encontre, também, o afastamento de muitos vivos. E isso não é punição: é depuração. A jornada é, por natureza, solitária — não porque exclui, mas porque revela. Mostra quem está por inteiro e quem só suporta o que entende.
Aqui, desejo não é culpa: é fogo ritual. Ele não pede licença. Ele é. E quando se manifesta, realiza. A vontade é sagrada porque não precisa ser autorizada — apenas reconhecida.
No culto, não há modelo a seguir. Não há moldura, nem cartilha. Há caminho. Há presença. Há coragem de continuar mesmo quando tudo cede. Pois quando se caminha com a Morte, aprende-se que viver é sustentar o passo — não com promessas, mas com presença.
Nada é mais vivo do que o que já tocou o fim e escolheu continuar.
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Encruza dos Ossos
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